Introdução

A metodologia científica constitui-se como o conjunto de princípios e procedimentos que orientam a produção de conhecimento validado e compartilhado pela comunidade acadêmica. Desde a sistematização baconiana e cartesiana, o método científico tem sido ancorado em um tripé essencial: observação, análise e conclusão. Tal estrutura, embora aparentemente estável, assume sentidos distintos conforme o paradigma epistemológico que a fundamenta. No âmbito materialista, a ciência busca explicar os fenômenos a partir de relações objetivas, mensuráveis e reprodutíveis. Já no paradigma pós-materialista, amplia-se a noção de realidade para incluir dimensões subjetivas, intersubjetivas e transpessoais, reconfigurando o significado e o alcance do tripé metodológico.

 

Observação: Empiria e Consciência

Na tradição materialista, a observação é entendida como um registro empírico, objetivo e imparcial dos fenômenos, mediado por instrumentos que reduzem o erro humano e garantem confiabilidade (Popper, 2002). O pesquisador deve minimizar sua interferência, de modo que a realidade se manifeste em “dados puros” passíveis de quantificação.

Em contrapartida, a visão pós-materialista – representada por autores como Radin (2013) e Sheldrake (2012) – reconhece que a observação não é neutra. O observador participa ativamente do fenômeno observado, influenciando-o por meio de sua intencionalidade, crenças e estado de consciência. Assim, a observação transcende o registro físico e inclui a dimensão experiencial e fenomenológica.

 

Análise: Lógica e Interpretação Ampliada

No paradigma materialista, a análise é conduzida pela aplicação rigorosa da lógica formal, da estatística e de modelos matemáticos. O objetivo é identificar padrões, correlações e leis gerais que expliquem o comportamento da realidade material. A análise deve ser replicável e livre de interpretações subjetivas, seguindo a lógica positivista (Bunge, 1980).

Já na perspectiva pós-materialista, a análise integra tanto métodos quantitativos quanto qualitativos, valorizando a hermenêutica, a fenomenologia e a interdisciplinaridade. A interpretação amplia-se para incluir significados subjetivos e dimensões de sentido que não se reduzem à materialidade. Tal abordagem considera legítimos os relatos de experiências interiores, estados alterados de consciência e fenômenos não locais (Koenig, 2012; Moreira-Almeida & Santos, 2020).

 

Conclusão: Generalização e Inteireza

Para a tradição materialista, a conclusão deve ser universal, objetiva e previsível, traduzindo-se em leis naturais aplicáveis a múltiplos contextos. A validade do conhecimento é medida pela capacidade de prever resultados futuros e de sustentar aplicações tecnológicas.

No paradigma pós-materialista, a conclusão não se limita à generalização estatística, mas se abre ao reconhecimento da singularidade, da complexidade e da integralidade dos fenômenos. A ênfase está menos na previsibilidade e mais na compreensão ampliada da realidade, incorporando dimensões espirituais, éticas e existenciais. Nesse sentido, a conclusão torna-se um processo em aberto, um horizonte de sentido que articula ciência, filosofia e espiritualidade.

 

Considerações Finais

O tripé metodológico – observação, análise e conclusão – mantém sua relevância como estrutura epistemológica fundamental. Entretanto, a forma como cada etapa é concebida varia substancialmente conforme o paradigma adotado. O materialismo garante objetividade e previsibilidade, mas tende a reduzir a realidade ao mensurável. O pós-materialismo, por sua vez, amplia os horizontes da investigação científica ao integrar dimensões subjetivas, intersubjetivas e transpessoais, possibilitando uma visão mais abrangente da natureza e do ser humano. A ciência contemporânea encontra-se, assim, diante de um desafio epistemológico: conciliar rigor empírico e abertura à complexidade da consciência.


Referências

  • BUNGE, M. Epistemologia: Curso de Atualização. São Paulo: Editora T.A. Queiroz, 1980.
  • KOENIG, H. G. Handbook of Religion and Health. 2. ed. New York: Oxford University Press, 2012.
  • MANIFESTO Para uma Ciência Pós-Materialista. Opensciences.org,2014
  • MOREIRA-ALMEIDA, A.; SANTOS, V. F. Espiritualidade e Saúde: Uma Nova Relação entre Ciência e Religião. São Paulo: Edusp, 2020.
  • POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 2002.
  • RADIN, D. Supernormal: Science, Yoga, and the Evidence for Extraordinary Psychic Abilities. New York: Deepak Chopra Books, 2013.
  • SHELDRAKE, R. Science Set Free: 10 Paths to New Discovery. New York: Deepak Chopra Books, 2012.
  • TART, C. Transpersonal Psychologies: Perspectives on the Mind from Seven Great Spiritual Traditions. 3rd edition, New York, NY: Harper & Row Publishers, 1991.